DATA DE PUBLICAÇÃO
07-10-2024
ARTIGO DE OPINIÃO
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Nº 015
Apresentação
Eu sei. Fazer as primeiras impressões de um livro de um livro obrigatório nas escolas é um tiro no pé, mas não o li. Pequei tanto pela falta de maturidade quanto pelo interesse, entretanto cá estou para exaltar esta excelente obra de Machado de Assis que inaugurou uma nova escola literária brasileira, o realismo.
Machado de Assis é um excelente escritor, todos sabem disso e eu sei disso, mais pelos depoimentos do que pelo conhecimento de seu trabalho. Me arrependo muito, porém me alegro por ter tido essa iluminação e oportunidade de poder experimentar uma obra tão bem escrita e que representa a nossa nação. Falo isso, porque recentemente tivemos um aumento exponencial nas buscas por livros machadianos. Talvez porque algum influenciador estrangeiro o tenha descoberto ou algum endinheirado aumentou a aposta em tráfego pago. Vai saber.
Do começo
Este artigo terá cara de resumo e talvez o seja, mas se você tiver pressa, recomendo procurar resumos de outros sites. Para os que ficam, espero que gostem.
Brás Cubas é o protagonista da obra e o narrador, afinal de contas o livro é o que ele é “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Isso mesmo! O narrador (aquele que faleceu) é o protagonista e veremos toda a sua história desde pequenino até sua pós morte. Por isso nossos professores falavam que se tratava de uma história degressiva (começa desde os primeiros anos) e fragmentada (sabemos o todo por meio de fragmentos da história). Seu início já dá o tom do que veremos ao longo dos capítulos. Nele encontramos uma das melhores frases que já li:
“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico com saudosa lembrança, estas memórias póstumas.”
O miolo
Memórias Póstumas de Brás Cubas, por ser uma obra realista, ela carrega tudo aquilo que representa este movimento, o pessimismo. Nenhum romance tem a obrigação de ser perfeito, a pureza é questionável assim como os bons valores. Com isso, veremos histórias que se afastam de uma vida idealizada enquanto se aproximam do que seria a vida real (com seus imprevistos e mazelas). Vamos para alguns exemplos:
- Eugência: personagem que teve um romance com o protagonista,porém não vingou por ser coxa;
“Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?“
- Marcela: seu primeiro par romantico, porém, por ser uma mulher de luxo, seus interesses eram nas riquezas de Brás Cubas;
A lista de personagens continua, mas para não prolongar muito deixemos assim.
Ao longo da obra vemos muito sarcasmo, humor e um pouco de melancolia, tudo aquilo que é comum em uma vida vivida. Não vemos uma motivação central, na verdade, vemos vários “chamados para a ação”, porém o pessimismo machadiano o limita a apenas a um chamado mesmo.
O final
Acredito que entre os 160 capítulos, a etapa final comece no 134. Neste capítulo em diante vemos uma ambientação melancólica, nostálgica e lúgubre. Destoando de todo o resto da obra.
Ao passo que vamos chegando aos últimos capítulo, vemos a presença de Quincas Borba ser mais importante. Ele acaba sendo aquele amigo conselheiro enquanto o protagonista tenta aplacar o vazio em seu interior. Porém assim como seus amigos foram subtraídos pelo tempo, Brás também é levado. Em um exame de consciência, após reviver tudo aquilo que havia passado ele escreve “Das negativas”, seu último capítulo. Ele termina com a seguinte frase:
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
Entre tantos projetos não realizados, a ausência de um herdeiro lhe rendeu um saldo dentre tantas negativas. No alto do seu pessimismo e contra o propósito divino, Brás mostra que poderia ter terminado ainda mais negativa se tivesse passado a herança miserável que é viver.