DATA DE PUBLICAÇÃO

25-09-2024

ARTIGO DE OPINIÃO

ENCARANDO O ETERNO

Nº 011

Encarando o eterno

Encarando o eterno se trata de um artigo de opinião sobre A Morte da Máscara Rubra, um dos contos de Edgar Allan Poe. Tentarei ser breve e conciso em minhas colocações, mas, adianto que este texto estará cheio de anedotas e espero não cansar vocês com as minhas colocações. Acredito que o melhor público que apreciará este assunto serão aqueles que já leram este conto. Espero que gostem!

Aos que leram e não se lembram, a Morte da Máscara Rubra se trata de um conto curto e “redondinho” sobre um determinado período e lugar em que a população estava sofrendo com um tipo de epidemia (a doença era chamada de Máscara Rubra). Um certo grupo de gente endinheirada recebe o convite do príncipe para uma festa hedônica, regada a vinho, dança, música… enfim, aceitam e se trancam no castelo. Dentro do castelo, passamos para algumas páginas descritivas; dentre essas descrições vemos dois elementos perturbadores: um quarto com paredes de veludo preto e um relógio esquizito.. até que a morte chega. 

O autor escreveu excelentes contos mais explícitos, mas este aqui me prendeu pelo subtexto. E É nele que me prenderei e tentarei mostra-los o impacto transformador que ele causa nessa história. Vou dividir em três grupos: as salas, os convidados e, por fim, encarando o eterno.

As salas

Poe se demora descrevendo cada sala do castelo do príncipe. Diferenciamos cada sala a partir da sua decoração; temos salas verdes, azuis, amarelas, enfim, cada uma com seu propósito lúdico e estético, por assim dizer. Porém, temos uma que se destaca de todas. Com as paredes cobertas por um veludo preto, luzes vermelhas e um relógio grande, pesado que em seu badalar faz todos se arrepiarem. Todos se incomodam com aqueles elementos e ninguém gosta nem de passar perto.

Os convidados

Diferente do usual, Poe não conta essa história de uma maneira intimista. Aqui o narrador é onipresente e onisciente.

Ali temos todo tipo de gente. A celebração do lado de dentro contrasta com a desgraça no exterior. Entretanto o relógio toca. Como o presságio do fim, o relógio badala e todos na festa ouvem seu som ecoando nas salas e corredores. Uns oram, outros apenas congelam. Até que o som cessa e todos voltam aos festejos.

Encarando o eterno

Uma figura encapuzada aparece na festa com uma máscara que lembra o crânio humano e passeia entre as salas. O príncipe se ira e começa a perseguir essa figura até que, em frente ao quarto e do relógio esquizitos, ele padece. Seus convidados, tomados pela ira, se revoltam contra essa figura e começam a padecer, um a um. Esta é a Morte da Máscara Rubra, contada à nós, como uma advertência, um aviso, uma profecia.

Conclusão

É interessante pensar que alguns de nós também enfrentarão seus fins das mesmas formas que os convidados. Provavelmente se entregarão aos prazeres mais carnais com o intúito de carregar essas últimas sensações para o eterno, quase como se estivessem sendo arrancados da sala de cinema na melhor parte do filme. A revolta do príncipe e, porteriormente, dos convidados demonstra um sentimento quase que infantil em não aceitar a regra final e derradeira de que a hora de ir tinha chegado.

Referente à sala, imagine você entrar numa sala aonde tudo era revestido de veludo preto. Paredes, chão, teto e a única luz que entra nessa sala é a luz de tochas refletidas por um vitral vermelho. Como todos sabem, o preto não reflete a luz em sua totalidade, então, podemos deduzir que a iluminação era precária e os únicos que poderiam relfetir alguma luz ali, seriam dos corpos ali presentes. E a imagem que fica? Ora, de um corpo ensanguentado como das vítimas da doença.

Poe é muito feliz em contar essa história em terceira pessoa, porque podemos ver sob uma ótica distante como encararíamos nosso fim. Uns se entregarão aos deuses que tanto negligenciaram, outros se darão conta que o vazio está próximo. Mas sob o mesmo chão padecerão tanto os bons quanto os maus.

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