DATA DE PUBLICAÇÃO
24-10-2024
ARTIGO DE ESTUDO
OS PERSONAGENS
Nº 017
Apresentação
No artigo de estudo de hoje falarei sobre o papel dos personagens em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Começarei apresentando-os e falando brevemente seu papel na trama. Espero que gostem!
Qual seria o interesse em estudar os personagens de um romance? Haveria algo de grande valia que podemos obter estudando essas figuras? Com certeza. Para aqueles que não sabem, Memórias Póstumas é considerada uma das, se não a melhor, obra de Machado de Assis, por representar uma fazer totalmente cínica do autor misturada com humor e um protagonista vivo (as vezes nem tanto) e cativante.
Introdução
Vou começar do início. Machadão quer passar uma mensagem em seu livro. Qual seria? Que nada tem um propósito de acontecer. Nada possui um fim se não eles mesmos. Um romance não passa de um romance; ideias são só ideias mesmo e não tem sua parte na realidade; as mazelas são infortúnios da vida e por aí vai.
Para mostrar o seu ponto de vista, o autor utiliza três classes de personagens em sua trama: a elite (representada pelos políticos e os endinheirados), a classe média (que tinha seu trabalho, mas buscava favores da elite) e a classe baixa (escravos e pobres).
Machado de Assis utiliza essas classes para mostrar como elas funcionam segundo sua visão. Brás Cubas acaba sendo o resultado de uma elite enfadada e sem propósito por ter sido criado sem derramar uma gota de suor da testa. Por sua falta de propósito, personagens como Virgília e Quincas Borba se tornam catalizadores na vida do protagonista e das ideias do autor.
Virgília
Virgília aparece pela primeira vez no capítulo 27 aos 16 anos de idade como promessa de um casamento de conveniência com Brás Cubas para alça-lo ao cargo de deputado. Logo ele perde seu posto para Lobo Neves (alguém muito mais favorável para o cargo).
Nesse ponto em diante o relacionamento de Virgília de Brás Cubas entra num grande cortejo.
“O senhor há de valsar comigo.“
“Nosso amor era daquelas; brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta, folhuda e exuberante criatura do bosque.“
Os dois acabam tendo relações e apesar de sua amizade com Lobo Neves, o protagonista só queria aproveitar os amores de sua confidente. No capítulo 114, Neves recebe uma propósta de cargo político que lhe obriga a morar em outro estado com sua família. Eles retornam no capítulo 130 enquanto Brás Cubas está com seus 50 anos de idade; Virgília é a responsável por fazê-lo notar que não há muito tempo para viver e que logo logo sua vida expirará.
Quincas Borba
Quincas Borba aparece logo nos primieiros capítulos do livro, mas só vai ganhar destaque quando reaparece após ganhar uma herança de um familiar falecido. Até então ele vivia no Passo Público como mendigo.
“Não precisa contar-lhe nada, disse ele, enfim; o senhor adivinha tudo. Uma vida de miséria, de atribuições e de lutas…“
“Cedi o meu degrau da escada de São Francisco; finalmente almoço.“
Durante a ausência de Virgília, ele surge como um amigo e tutor na vida de Cubas a partir de uma filosofia autoral chamada de Humanitismo. Nesse ponto da história, o protagonista enfrenta a parte mais moribunda de sua vida e tenta compensa-la com os conselhos de seu sábio amigo. Logo ele fica demente e vem a falecer. Brás Cubas não demora muito e falece também.
Os personagens
Esses dois se tornam importantes Não só por serem quistos pelo protagonista, mas por representarem símbolos dentro dessa obra machadiana: Virgília seria a deturpação da representação do par romântico do protagonista que o força a lutar por ela a medida que ela se entrega. Até certo ponto ela consegue, mas seus próprios interesse falam mais alto; afinal de contas o que ele poderia lhe garantir o que ela já não teria com Lobo Neves?
Quincas reaparece na história como alguém mais pragmático e realista quanto as suas necessidades e chega até a roubar o relógio de Cubas para conseguir comida. Após herdar uma gorda herança, ele se ocupa de questões mais subjetivas como desenvolver uma filosofia própria que salvará a humanidade (de alguma forma miraculosa). Infelizmente ela é descartada antes mesmo de ser concluída.
Conclusão
Ao terem ascendido na sociedade, os personagens se vêem sem propósito aparente. Quincas tem a conclusão de sua tese filosófica como objetivo de vida, mas acaba não concluindo por sofrer o mesmo mal de Cubas, o enfado e a falta de propósito. Da mesma forma Virgília. Ambos os personagens vivem no ápice de seus confortos e vemos que nada significativo foi feito ou teve a intensão de ser feito. Afinal de contas, porque devo lutar?
As aparências valem muito mais que o estofo da carne. Quincas apenas parecia que falava algo importante enquanto Cubas via Dona Plácida descartada como um animal como resultado do “bem maior” de sua filosofia torpe. Virgília não pôde dar dignidade nem ao marido e nem ao amante porque estava preocupada com seu conforto. A conclusão do livro é uma sucessão de irrealizações que corroboram com a frase final do livro:
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.“